quarta-feira, 27 de maio de 2009
DENTE DE OURO
NO AMBIENTE POLÍTICO DO INTERIOR, ONDE A SORTE DAS HUMILDES CRIATURAS FICA ENTREGUE AO DESAMPARO, POR CULPA DAQUELES QUE VIVEM APENAS PARA SEUS INTERESSES, CAMPEIA A VIOLÊNCIA SEM FREIOS. E é numa esfera assim que surgem bandidos do tipo de Dente de Ouro, o terrível facínora que, zombando das frágeis autoridades do lugar, por muitos anos praticou uma série de crimes dos mais brutais.
CONSIDERAÇOES SOBRE O AUTOR E SUA OBRA
MENOTTI DEL PICCHIA, que obteve grande consagração como poeta, depois do lançamento de Juca Mulato, poema de uma idílica brasilidade e que conta com numerosas edições, também é um dos melhores prosadores de nossos dias, tendo atuado muitos anos na imprensa paulista e nos mais destacados jornais do Rio. Na qualidade de romancista, tem sua nota mais alta na criação de Dente de Ouro, narrativa que nasceu de fatos observados na sua infância. Já em Laís havia apresentado um quadro da vida do interior do brasil, com suas violências e des& NOT;mandos, pondo em confronto sentimentos fortes e ridículos. Em Dente de Ouro, passa a descrever as valentias do bandido João Brandão, que conhecera em Itapira, juntando ao negro da reali¬dade o colorido da ficção.
Quando mataram o facínora, o menino levado pela curiosidade, foi vê-Ia estendido na tábua, todo pálido, com a testa perfurada por um balaço. Viu a mulher e os filhos de olhos enxutos, contemplando o cadáver. Espantou-se o menino, que sabia da fama do bandido, por ver um corpo hercúleo como aquele ali inerte devido a um pequeno orifício na testa. Os anos passaram-se, mas a figura do bandido não saíra da lembrança de Menotti.
Um dia, a caminho da redação do Correio Paulistano passou a ressuscitar João Brandão e a história lendária de suas mortes. Não era só João Brandão que lhe vinha à mente. Sabia de outros nomes de famosos bandoleiros. Tantas eram as coisas ditas e espalhadas que mal podia crer na existência de Dente de Ouro. Havia um em São Paulo, outro em Minas. Mas "todas essas cria¬turas erráticas e vingativas se iam juntando numa personagem únic''''a, uma personagem de que eu necessitava para fazer uma novela destinada a ajudar o Sr. Rocha Fragoso a justificar o preço do Jornal do Brasil que passaria a ser de duzentos réis" - declara o próprio Menotti no prefácio do livro. É que Rocha Fragoso, na época dirigindo o Jornal do Brasil, lhe havia solicitado uma novela para atrair os leitores, dizendo-lhe que o folhetim seria impresso de forma a poder-se depois reuni-lo num volume. E assim apareceu Dente de Ouro, uma dessas obras de ficção de que tanto gosta o leitor, não só pela emoção que lhe provoca o enredo como pela fluência e singeleza com que o autor escreveu a história.
O romance é todo narrado na primeira pessoa. O personagem narrador é um delegado de polícia. Muita gente supôs que se tratasse de um fragmento autobiográfico, o que levou o autor a explicar em seu prefácio que nunca na sua vida ocupou aquela função.
Ao lado das cenas brutais há também muito lirismo, envolvendo a paixão do delegado por uma mulher que estava ligada ao bandido mais pelo medo do que pelo amor.
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